Terminal T-Mult, dedicado a cargas diversas, incluindo agrícolas, deve dobrar capacidade anual para 5 milhões de toneladas nos próximos anos
A guerra comercial iniciada pelo presidente norte-americano Donald Trump derrubou os preços globais de commodities, mas trouxe bons ventos para o Porto do Açu, um dos maiores complexos portuários do Brasil, que vê um aumento no seu volume de exportações, informou a agência Bloomberg. Localizado em São João da Barra, município no litoral Norte do Estado do Rio de Janeiro, o Porto — principal ponto de embarque de petróleo do país — já investia em ampliação de capacidade para aliviar gargalos no escoamento de produtos agrícolas e minerais. Agora, as distorções no comércio global provocadas por tarifas, impulsionam ainda mais a demanda, segundo a administração do terminal.
“Quando começaram as ameaças do presidente Trump, a demanda subiu”, afirmou João Braz, diretor de logística do Porto do Açu. “Estamos em uma posição muito favorável aqui”, acrescentou.
O avanço do porto ilustra como outros países conseguem ganhar espaço rapidamente em meio ao embate comercial entre EUA e China. Na semana passada, a China anunciou que pretende retaliar a tarifa de 34% imposta por Trump com uma medida equivalente — o que pode abrir uma janela para os exportadores brasileiros ganharem mercado.
O Brasil é o maior parceiro comercial da China e disputa com os EUA a liderança nas exportações globais de produtos agrícolas. O país também é o maior produtor de petróleo da América Latina e um dos principais exportadores mundiais de minério de ferro, insumo essencial na fabricação de aço.
Em fevereiro, o governo Trump anunciou uma tarifa de 25% sobre as importações de aço e alumínio nos EUA. “A partir daí, o Porto do Açu observou uma forte alta na demanda por ferro-gusa, matéria-prima usada por siderúrgicas norte-americanas”, disse Braz. As exportações do produto no primeiro trimestre superaram em 50% todo o volume embarcado em 2024, segundo ele.
O Brasil também está bem-posicionado para avançar sobre o mercado de soja dos EUA. Maior produtor mundial da oleaginosa, o país deve colher um volume recorde de 171,3 milhões de toneladas em 2025, impulsionado pelo clima favorável e pela ampliação da área plantada, segundo a consultoria Agroconsult.
Novos dados indicam que outros setores também se beneficiam do cenário externo. As exportações brasileiras de carne de frango, in natura e processada, atingiram 476 mil toneladas em março, segundo a ABPA, alta de 19% na comparação anual. Os embarques para a China cresceram no mesmo ritmo, enquanto as vendas de carne bovina subiram 20%.
Apesar do avanço, a produção de soja cresce num ritmo superior à capacidade da infraestrutura logística. “Há um grande congestionamento nos dois extremos”, afirmou Eugenio Figueiredo, CEO do Porto do Açu.
O terminal T-Mult, dedicado a cargas diversas, é o ponto de embarque agrícola do porto e deve dobrar sua capacidade anual para 5 milhões de toneladas nos próximos anos. Está em andamento o aprofundamento do canal diante do terminal, para permitir a atracação simultânea de dois navios Panamax.
Por ora, o porto afirma que clientes estão estocando soja em seus armazéns, com a maior parte da carga destinada à China.
A escassez de contêineres também está desviando negócios para o Açu. Os ataques a navios no Mar Vermelho por militantes houthis, apoiados pelo Irã, reduziram a disponibilidade de contêineres usados por exportadores de café, por exemplo. O Brasil é o maior exportador global da commodity, e alguns vendedores passaram a usar bags gigantes para embarcar a carga no porto, evitando atrasos em outras instalações.
O Açu iniciou os embarques de café em bags em 2024 e espera crescimento no volume neste ano. Há planos também para começar a movimentar açúcar.
“Os clientes precisam de alternativas”, afirmou Braz. “O sistema está travado”, concluiu.